domingo, 19 de agosto de 2018

Quadras de um poeta que mente...

Um poeta que finge e parece
esquecer o amor já perdido
quando outro amor acontece
volta ao passado esquecido.


Enigmas um poeta tece...
Se chora quando é feliz
e ri quando entristece
alguém entende o que diz?

Se não estás cá para avaliar

nem essa é a tua missão
o tempo que está a passar
é tempo dos que cá estão.

Os teus olhos eram tão tristes
castanhos como os meus são
fecho os meus julgo que existes
abro os meus e já cá não estão.

Os teus lábios cor de carmim
foram paixão que queimou
beijei-os em dias sem fim
até que o destino os levou.


E quer acredites quer não
mulher de branco vestida
amei-te no tempo de então
enquanto a vida foi vida...

Olhavas o teu horizonte
procurando o que não existia
e eu estava mesmo defronte
dos olhos de quem não via.

Se um poeta finge a dor
nunca a verdade encontrou
se num dia perde um amor
no outro... já outro chegou.

E todo o poeta que navega
para além do seu horizonte
nunca a mensagem entrega
ao amor que tem defronte.

Ser poeta é saber navegar
por mares de mil correntes
e nos teus lábios naufragar
em beijos longos e quentes.

Se rosa vermelha é paixão
a branca é sinal de morte
se me deres a tua mão
tenho nela a minha sorte.

O espinho fino crava fundo
num momento a dor aperta
quem me dera ser deste mundo
mas ter sempre a porta aberta.


No tempo que há de vir...
sonharei sempre a teu lado
no espaço que então existir
não há lugar para o passado.


No passado em que te amei
no futuro que se adivinha

num deles por ti já passei
no outro nunca serás minha.

Quem me dera adivinhar
nas linhas da sua mão
ter alguém a quem amar
sem sangrar o coração.

Quero tudo e nada quero
pouco me resta de ti
há muito que por ti espero
desde que ontem te perdi.


Chega o tempo do entardecer
estou no fim da minha sorte
sou poeta sempre a viver
nesta corrida para a morte.


Estou triste por ter esquecido
os sonhos que ontem sonhei
quem me dera não ter vivido
aquele dia em que te encontrei.

Jamais me vou esquecer
do poeta que nunca mente
ainda agora o estou a ver
fingindo a dor que não sente.

Palavras palavras perdidas
"meu amor minha ternura"
saudades de paixões vividas
são ecos de muita amargura.

Muito muito me enganei
perdi-me de amores a esmo
quando um dia te encontrei
enganei-me a mim mesmo.

O crepúsculo está a chegar
a morte tem a porta aberta
e o poeta perdeu a voz.
Esvai-se o tempo de ficar
nunca mais se é poeta
quando o rio chega à foz...

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