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amor de ontem, hoje ausente, talvez espreite na noite escura do
outro lado da porta, quiçá num mundo paralelo mas inatingível. Talvez.
Ninguém pode ter a certeza. Nem eu nem ninguém pode admitir se o teu
afastamento significa ausência. Uma coisa é afastamento. Outra, mais radical,
ausência.
Sendo
assim, onde moras?Recados. Memórias. Fragmentos. Só há uma resposta: silêncio.
E se o teu corpo sem vida renascesse amanhã do frio da solidão?
Ri, cadáver. Eu sei que só uma vez aconteceu e estava já determinado que acontecesse. Um plano sem falhas.
Afasto esta hipótese e dou lugar à especulação amorosa.
Por vezes, mas só por vezes, sonho que estás presente e é a vez do tempo sem tempo mostrar-me tal como eras. Sei que isto não passa de uma alucinação, esta sem objeto físico para a provocar. Então penso em túlipas, rosas, malmequeres, ou outras flores. Sei que é uma provocação chamar ao palco símbolos de passados sequentes. Apesar de tudo, permanecem os sinais, como a tristeza e a terra onde os vermes imperam.
E é aí que te encontro. Onde já não és e, portanto, não estás.
Mas se Deus quisesse nada teria acontecido como Ele quis que acontecesse, porque nada lhe escapa, pois está Omnipresente, não é verdade?
Então e a alma?
Um dia, alguém disse que nunca a encontrou debaixo do seu bisturi. Nem ao lado. Nem algures. Lógico. A alma é imaterial e imortal. Mas quando a procuramos, não sabemos onde mora. Tal qual como o eletrão. Mas existe.
Somos caminheiros errantes, perdidos nas terras que pisamos. Desenraizados. Desencantados. Desencontrados. Às vezes, cruzamo-nos à distância de estender o braço mas não ganhamos o momento porque já foi.
Estamos de passagem. Também acontece com as galáxias que, por força da existência da energia negra, não têm amanhã. As suas estrelas vão-se apagando, uma a uma. Fatalmente.
Mas isso vai acontecer daqui a muitos milhões de anos e é o que menos me interessa. Há uma interrogação bem mais premente, já que Alguém assiste, impávido e sereno a um estado de coisas que precisavam de uma "mão". Talvez até sorria quando os entendidos contrapõem a hipótese da existência de universos paralelos. Uns a chegarem ao fim e outros a nascerem. Até um dia.
Talvez num desses universos o meu futuro esteja a ser diferente. Ou em muitos outros.
Que importa também?, contraponho. Só queria voltar atrás, nem que fosse óbvio que voltava para errar outra vez. Óbvio ou não, afinal queria saber onde estaria (ou estará) o tal mundo que eu e ela jurámos ter só para nós e tentar descobrir porque foi que o perdemos de vista, assim tão de repente.
A propósito...
E Deus...?, será que existe?
Tenho dúvidas, muitas dúvidas, não só para este gesto de ilusionismo que fez esconder o que era óbvio para nós e abortar, quase à nascença, a vivência nesse tal mundo maravilhoso.
Se Deus existisse, já Cristo estaria cá outra vez e usando outros argumentos, pois que os primeiros falharam. E tanta falta faz!
Ou estamos numa "bolha" prestes a rebentar?
Teimando em estar de volta... se Deus existisse, estavas ao meu lado e falavas comigo.
Mas a realidade é o que é, mesmo que seja cruel admitir. E assim, a esse respeito só eu ainda falo contigo à minha maneira. E com Ele já desisti de falar.
Admitindo o contraditório, suponhamos que existe. Mesmo que Ele não fale comigo, o que mais gostava que acontecesse já teve há muito o seu ponto final quando Ele, dedicado a tarefas maiores, um certo dia enviou ao meu encontro o deus menor que só destruiu à minha volta!


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