domingo, 19 de agosto de 2018

Gostava tanto!




Hoje sinto-me em dia não. Como um peixe fora de água. Bom, é uma metáfora que está muito batida. Preciso de encontrar outra. Estou saturado dos dias azuis em que me sinto cinzento. Mas é outra metáfora também muito batida. 
Hoje não está a acontecer como em todos os dias que se repetem? 
Estou triste? Talvez. Nostálgico? Talvez também. Mágico? Faz-me rir só de pensar. Se fosse mágico, não tinha perdido o que já foi meu.
Então... vamos por partes. Preciso de ter uma coisa que me faça sair do marasmo. É um absurdo, se nem sequer desejo ser senhor do imprevisto que me espera depois de saltar o muro que me prende a vontade de sentir à solta as emoções. Por exemplo, assaltar um banco e sair sem uma nota para recordação. Balear uma sombra e apanhar a bala. Esventrar um corpo invisível. Ver o meu duplo a passear no jardim. Chamar a loucura e tratá-la por tu após cortes fatais nas sinapses dos neurónios. E tudo mais. É no mais que reside o fundamental.
Não se assustem com este jogo de palavras. Sim. Porque não passa de um jogo. Estou para aqui a chamar cá para fora os pensamentos poluentes que ajudam a passar o tempo que se escoa. O tais pensamentos que deslizam como patins sobre uma crosta fina de gelo e cujo destino é o que esperamos que seja.
Estou nervoso por estar calmo. O ócio faz-me stress.
Quando o vento assobia a canção da tempestade, fico indiferente porque não passa de um assobio que sibila e foge de mim. Para o largo. Bem longe de mim, que tenho uma tempestade mais forte cá dentro.
Não gosto desta vida fútil. Não me motiva. Nem sequer me amedronta se, alguma vez, vir no céu o cogumelo da bomba a anunciar o que já soubemos... porque aconteceu duas vezes. 
E quando estou assim, a energia escura está comigo. A energia que leva as galáxias para longe umas das outras até que o fim vem, pelo frio as envolve. Não há outro motivo que não seja o de rodar a chave e fechar o Universo, porque outro será gerado e assim... até que eu e ócio nos sentemos outra vez à mesa e olharmos um para o outro, esperando que um dos dois se decida.
Estou tão farto desta imitação de viver que até o vício foge de mim. O afeto esconde-se. O ódio pede licença para entrar. Só entra se vier do amor que gerou um dia e ficou perdido algures, lá muito para trás.

Como se salta de ontem para amanhã? O cenário que me envolve é insuportável. Tenho que tomar uma decisão. Decisão? Beber um copo de água porque tenho sede e imaginar que estou a ser envenenado com arsénico. Lentamente. Até que a loucura de todo cá dentro. É isso. E com esta tempestade louca a instalar-se, o que sinto não é sinal que ela veio para ficar?
Finalmente uma ideia válida. Algo visionário vindo do sonho que estou a viver e que culmina com um desejo...

... gostava tanto de ser a flor do cato que abre só por um dia no deserto que é eterno, que tem o cato que mostra a flor só por uma dia, que me teve ontem, que me tem hoje e que me terá sempre!
E mais: gostava tanto de renascer ao crepúsculo para sentir saudades de viver só um dia no último ano que me resta. Um dia especial. Um dia só para ti, se é que não estiveste dentro do sonho que vivo cá dentro, que não dura sequer uma hora e é toda a minha vida.

Agora, que as palavras estão a esgotar-se...
Vem ter comigo mesmo que tenhas sido um sonho. Vem, nem que seja por uma hora para mais um sonho. Afasta de mim este tédio que me consome, senão consumo-o eu. Esta tristeza não tem cura porque não fala comigo e assim não sei o porquê do mutismo e não posso afastá-la. Bem como a loucura que simulo estar a possuir-me.
E por tudo isto, vem, amor ou ilusão de amar! Vem ter comigo, mesmo que não seja por tudo isto...
Gostava tanto de rever-te!
O resto...?
Não passou de monotonia.

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