terça-feira, 14 de agosto de 2018

As flores

Disseste-me há dias que não gostavas de rosas. Vermelhas. Brancas. Amarelas.
Perguntei-te porquê e não respondeste.
Fiquei a pensar e julguei ter encontrado a resposta. Talvez por serem banais. É habitual um homem oferecer rosas à mulher que ama e esse hábito cai na vulgaridade.
Tudo bem. Não gostas de rosas porque são vulgares. Flores belas, mas vulgares.
Mas eu sou um homem entre os muitos que são vulgares e tu sabes isso muito bem.
«Gosto de orquídeas. Para mim as orquídeas são belas, qualquer que seja a cor.»



«Ah sim. As orquídeas...»
Fiquei outra vez a pensar. Quando os nossos destinos se aproximaram, ofereci-te rosas vermelhas todos os meses e nunca me disseste que não gostavas de rosas.
E dizes que és uma mulher frontal.
Há quem afirme a pés juntos que as rosas vermelhas espelham a paixão. É uma opinião. Respeito as opiniões dos outros.  Mas sabes...?, ofereci-te rosas vermelhas só por amor. Se fosse paixão, nada restaria ao fim de pouco tempo senão a cinza fria dum falso amor e nada disto aconteceu. A suposta paixão da rosa vermelha ardeu com uma chama quente e continuará a arder. Assim, o que sinto por ti é amor. Nunca foi paixão.
Dizes que gostas de orquídeas.
Uma vez ofereci-te uma orquídea em vaso e as flores murcharam ao fim de pouco tempo.
«Não tenho sorte com as plantas.» Desculpaste-te.
As orquídeas não necessitam de muita água, mas não foi por aí que a planta morreu. Acho que te esqueceste de “falar” com ela e tal lapso foi fatal. É que as plantas não falam, mas gostam, tal como as mulheres, de ser apreciadas, encorajadas, protegidas. Coisa que não fizeste à pobre orquídea. Aliás, já admitiste, mais que uma vez, ser disparate “falar” com uma planta, nem que seja com uma orquídea.

«E amores-perfeitos?»
«Sabes muito bem que não há amores perfeitos!»


Pus de parte as rosas, as orquídeas e os amores-perfeitos e então pensei nos malmequeres. Mas ao pensar nos malmequeres estava a manipular uma roleta russa. Mal me quer... bem me quer... muito... pouco... nada.


Definitivamente não. Nada de oferecer-te flores.
Talvez fosse melhor seres tu a oferecer-me uma flor.
«É mau gosto!» comentaste de imediato, desconfiada e agastada.
Tudo bem, é uma opinião. Mas ouve o que me falta dizer ainda, flor que todas as noites murcha e também todas as manhãs renasce...
... quando será o dia em que me vais dizer que conheces o amor porque já te entregaste toda a ele?
Quanto a ofereceres-me uma flor, não é um gesto de mau gosto. Antes pelo contrário. Aspirar a proximidade constante do perfume que exala do teu corpo, acariciar-te como se faz a uma for frágil, beber a doçura das tuas palavras, ouvir o bater apressado do teu coração, sentir o toque das tuas mãos nas minhas... quem és senão a flor que quero que me ofereças?

Não consegui ler o que se escondia no teu meio sorriso.
 O tempo passou e descobri então que nem sequer era paixão o que sentias por mim.
«Demasiado tarde!» pensei.
Devia ter-te oferecido um cato, porque a flor do cato só dura um dia...





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