(Um cântico para amanhã)
Fugiste sem perguntar se era atração ou amor...
Ao mergulhar nos teus olhos nesses momentos não soube se eras tu, se te inventei noutros olhos ou se outros te esconderam.
Soltaste os cabelos ao vento e montaste o corcel da viagem...
Porque foi?
Um dia, quis oferecer-te o amor e disseste logo que não. Compreendi. Eu vestia o manto crepuscular e tu eras uma rosa em botão. Assim, fechou-se inevitavelmente a nossa janela do futuro.
Dei comigo a perguntar se havia noite mais escura, sem estrelas e sem luar do que a noite deste meu viver?
Foi o tempo de escrever poemas a esmo e de tentar enganar-me a mim mesmo. A esperança ainda estava viva e o cavalo da coragem esperava por mim, impaciente. Então, equacionei os prós e os contras e admiti que ainda não era tarde. Disseste que tinhas guardado bem guardados os poemas que te dediquei. Que só tu os podias ler. Mais ninguém. Só tu podias sentir o profundo mais profundo da minha alma.
A Maria (1) vestia uma t-shirt azul e calças de ganga, também azuis. Continuava muito morena. Achei-a mais magra. Queixou-se que quase não teve férias por estar com muito trabalho. O trabalho. Sim. Já me esquecia.
Soltaste os cabelos ao vento e montaste o corcel da viagem...
Porque foi?
Um dia, quis oferecer-te o amor e disseste logo que não. Compreendi. Eu vestia o manto crepuscular e tu eras uma rosa em botão. Assim, fechou-se inevitavelmente a nossa janela do futuro.
Dei comigo a perguntar se havia noite mais escura, sem estrelas e sem luar do que a noite deste meu viver?
Foi o tempo de escrever poemas a esmo e de tentar enganar-me a mim mesmo. A esperança ainda estava viva e o cavalo da coragem esperava por mim, impaciente. Então, equacionei os prós e os contras e admiti que ainda não era tarde. Disseste que tinhas guardado bem guardados os poemas que te dediquei. Que só tu os podias ler. Mais ninguém. Só tu podias sentir o profundo mais profundo da minha alma.
E eu que fiz?
Nada. Ingenuamente fiquei à tua espera e não montei o cavalo da coragem. Tínhamos que ser os dois a voar para lá do azul constelado onde moravam as estrelas do nosso sonho. Mas não vieste. Era um sinal de adeus. Mesmo assim não desisti. Sabia onde encontrar-te.
A Maria (1) vestia uma t-shirt azul e calças de ganga, também azuis. Continuava muito morena. Achei-a mais magra. Queixou-se que quase não teve férias por estar com muito trabalho. O trabalho. Sim. Já me esquecia.
E o cabelo, estava apanhado atrás?
Não sei. Não me lembro. Começava a ficar demasiado aéreo.
«E tu?»
Os olhos espantados de gazela revelaram um misto de cansaço e desânimo. Pouco ou nada disse. Se tivesse dito, muito me admirava. Notei tristeza, resignação.
Porquê também tanto desencanto?
Voltei então a falar da dificuldade que estava a sentir em adaptar-me à nova situação de reformado. À guisa de conforto, se é que se chama confortar uma pessoa quando se começa logo a "despedir", disse (e falava também para si) que era preciso ocupar o tempo.
Ocupar o tempo?!... Estás mesmo a despachar-me...
Ocupa o teu tempo e não me chateies. Nunca te prometi nada, Mário!
Mas... e o que fiz por ti?
Ora... tretas. Quem te manda ser parvo?
Era mesmo isso. Estava a aconselhar-me o remédio que tomava. Ocupar o tempo para se enganar a si própria. Tal como previ.
«Mas não podemos ver o tempo passar por nós...» Argumentei, em tom sério.
Ah!, se o passasse contigo!
A despedida foi rápida mal lhe fiz a pergunta crucial:
«E tu?»
Nem sequer me deu tempo a desejar as melhoras da mãe. Sentira que estava a ser algo incómodo e "despachou-me em grande velocidade". Despedi-me com receio de ter perturbado o seu exílio e os momentos de algum êxito profissional.
Mas as pessoas tímidas também são ingratas?
«Trata de ser feliz...»
Ficou com a sua solidão que não queria, de maneira alguma, partilhar comigo. Despedi-me com a ideia que já não valia a pena perder mais tempo porque o nosso tempo acabara há muito.
Estranhamente achei que a Maria estava a entrar no crepúsculo tão bem assinalado naquele sonho muito elucidativo de todas as proibições. Como no sonho, estava envelhecida para a idade que tinha e não consegui aproximar-me dela. Nada podia fazer. Cabisbaixo, encaminhei-me para o centro da cidade.
Forcei a entrada na sua vida subterrânea que eu próprio previ ser tal como era naquele momento e ela deu-me a resposta adequada ao mostrar uma frieza e animosidade com que não contava. Chocou-me muito. É que não contava com tanta ingratidão. Tratou-me como quem dá um pontapé a um cão, daqueles cães vadios que não têm onde cair mortos.
Estranhamente, foram sempre as ligações efémeras que deixaram marcas fortes na minha vida. Não vou esquecer a Maria.
Ainda hoje sonho contigo, quando o manto da noite escura e incongruente que me envolve. Sonho que um dia vão encontrar-se as galáxias em expansão, impulsionadas pela força misteriosa da energia negra, ficando cada vez mais distantes umas das outras. O que é absurdo sonhar assim. Os sonhos deviam tornar-se cada vez mais ténues.
Sei que não devo acreditar na verdade daquele dia em que me disseste, quando olhei para os teus olhos e nos fundimos num abraço, que esses teus olhos muito abertos, de gazela espantada, eram meus... de mais ninguém!
As utopias só se realizam no amanhã longínquo. Por isso, ninguém sabe a verdade, Mas eu acredito que sim e vou continuar sonhar contigo.
(1) Adeus, utopia
(

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