Foi há muito tempo, ou foi ontem?, quando a paixão vestiu o manto vermelho que te ofereci com um sorriso tímido que escondia as palavras que não te disse mas logo te seduziram.
Olhaste admirada sem saber se aceitavas um sorriso diferente de outros que te levaram.
Mas quem era o dono do sorriso?
O manto vermelho guardou o sorriso e veio um novo acontecer.
Talvez fosse o setembro dos sonhos falhados.
Vestias então o manto do tempo das paixões e “revisitei-te” logo. Como estavas bonita nas noites quentes de setembro! Os teus lábios rubros sabiam a morangos silvestres e eram cúmplices das noites quentes.
Mas as paixões não são como as andorinhas que voltam sempre ao mesmo beiral. Abafadas pelo vento suão vestem mantos ardentes que, afinal, são cinza fria amanhã.
Fui arquitecto de paixões, aprendiz sempre a viver amores e desamores mal vividos, desencantos, desencontros coveiro de esperanças perdidas, poeta que nunca rimou, beiral de ninhos desfeitos.
Mas num dia cinzento ou azul (porque há sempre um dia indeterminado) vi-te esvoaçar, graciosa, em volta do mesmo beiral que o tempo já destruíra. Mas ficou a recordação.
Os teus olhos que me encantaram olharam os meus com calor e fiquei logo a sonhar, embora soubesse que os sonhos mal sonhados pagam-se caro.
Vestias o manto da esperança, tão igual ao que foi primeiro que previ logo a chegada do tempo em que já não era ela.
E os olhos tristes que ontem vi, onde estão agora?
Vem de novo esvoaçar no novo beiral onde te espero. Quero sentir o calor do abraço...
Infelizmente, há sempre um amanhã escrito nas estrelas frias a revolver os destinos perdidos que ontem pareciam o que eram e que hoje já não são o que parecem.
O poeta dos sonhos ardentes abriu o manto rubro da paixão, fechou a porta mais uma vez e deixou lá fora o amor.
Hoje há novos avisos no ar. Paixão ou amor, não sei bem. Talvez amizade ou talvez não. Sinais que parecem trazer a boa nova de um novo despertar.
Abro a porta para o amor entrar. Sorris para mim. És graciosa. Mas no sorriso em que me envolves e nas palavras firmes que teces, nasce a dúvida e tarda a certeza.
“Só te dou a minha amizade porque o amor está escondido no meu coração que demora para um novo despertar; não digo nunca, mas não te amo. Hoje é assim e amanhã o que será será...”
Fico na dúvida. Impaciente. Esse sorriso terno que me mostras contrasta com as palavras que oiço. Quero acreditar mas és firme. Nada te faz demover. A amizade é real só real! Que eu não faça confusão.
Mas como o nunca não foi nunca, todos os dias acordava e abria a porta para o amor entrar. E logo a voltava a fechar.
A magia da incerteza é mesmo assim; num dia não, noutro dia sim...
O teu sorriso já é outro e não podes mais disfarçar. Estás feliz, esperas por mim. Estou feliz abro-te os braços. Bendito seja o mês de novembro que o setembro está morto. Não aconteceu em setembro desta vez. Olho em volta para ter a certeza que estamos sós. Mas coisa estranha!, virados para o crepúsculo de amanhã. Não interessa. Estou vivo. Há todo o tempo do mundo à nossa espera. Um mês, um dia, um segundo. Uma nova vida a correr para um novo amanhecer, quiçá curto.
Se foi mau viver na utopia dos loucos tempos da paixão e ter que perguntar aos ventos quando era o tempo de voar, sem fim, para lá do fim. E estar sempre sem chegar...
Ah... como é bom poder renascer das cinzas já frias. Amar madrugada adentro, sonhar que entraste e sorriste. Que eu digo sim e logo dizes sim. Que te abraço e te entregas.
Um mês, um dia, um segundo. Uma porta mais uma vez fechada, mas onde estamos eu e tu, não há fantasmas cá dentro, só falta ouvir o teu sim!

Sem comentários:
Enviar um comentário