Procurei-te na casa dos cânticos alegres e dos convertidos. Tinha uma secreta esperança de ver-te. De ouvir a tua voz. De saber se já estavas convertida àquela seita que prometia a abundância. Imaginava ser coisa difícil. Sim, porque tu eras um "diabinho" que nasceu da morte de um anjo, segundo disse a tua mãe. Não sei se te converteste mas quiseste converter-me.
A história é longa. O meu objetivo eras tu e fingi que estava convertido. Tudo para tentar descobrir se naquele dia tínhamos viajado para lá do nosso mundo ou se tudo não passara de uma alucinação.
Enganei-te. Não conseguiste converter-me. Acredita que não estou a culpar-te. Apenas a tentar convencer-te que nem sempre consegues aquilo que desejas, conforme costumavas dizer. Desculpa se te magoei, mas estas palavras tinham que sair. A força do Leão veio ao de cima e tu, como mulher Caranguejo, nada podias fazer senão submeter-te aos desígnios do destino que Deus pode traçar. Até porque a influência da lua não era positiva, segundo uma vidente que consultei.
Enquanto as pessoas saíam do templo, ocorreu-me que estávamos em setembro. A magia de setembro que sempre me envolveu. Aconteceu o amor, a paixão e também o desencanto.
Recordei-me daquela tarde em que estivemos no templo a que dei o nome de "casa alegre". Cantando. Apertando as mãos. Sentindo a química da atração. Trocando olhares cúmplices. Construindo uma utopia com a cumplicidade daquele ambiente feito à nossa medida, mas só para o momento. Apertaste-me a mão com força, talvez para que ficasse sem a mínima dúvida. Então, eu respondi. O ar ficou impregnado de esperança. Até que parecia haver um cheiro a morangos silvestres, o que, para mim, era um bom augúrio.
Foram três horas só nossas. Voámos no éter, para lá dos cânticos alegres e dos gritos grotescos dos pobres endemoniados. Não sei onde estivemos, mas estivemos e foi bom. Foi bom fundirmos os pensamentos e sonharmos. O futuro breve foi só de nós dois. Mas depois nunca mais aconteceu poesia!
Enquanto as pessoas saíam do templo, ocorreu-me que estávamos em setembro. A magia de setembro que sempre me envolveu. Aconteceu o amor, a paixão e também o desencanto.
Recordei-me daquela tarde em que estivemos no templo a que dei o nome de "casa alegre". Cantando. Apertando as mãos. Sentindo a química da atração. Trocando olhares cúmplices. Construindo uma utopia com a cumplicidade daquele ambiente feito à nossa medida, mas só para o momento. Apertaste-me a mão com força, talvez para que ficasse sem a mínima dúvida. Então, eu respondi. O ar ficou impregnado de esperança. Até que parecia haver um cheiro a morangos silvestres, o que, para mim, era um bom augúrio.
Foram três horas só nossas. Voámos no éter, para lá dos cânticos alegres e dos gritos grotescos dos pobres endemoniados. Não sei onde estivemos, mas estivemos e foi bom. Foi bom fundirmos os pensamentos e sonharmos. O futuro breve foi só de nós dois. Mas depois nunca mais aconteceu poesia!
As pessoas continuavam a sair. Talvez que estivesses escondida lá dentro. Não de mim. Das palavras que o poeta escreveu e que tanto te encantaram.
E se eu entrasse na casa dos cânticos alegres?
Satã? Que ideia!
Desta vez não cheguei a entrar porque ouvi a voz duma mulher. Não eras tu. Não era a tua voz doce que nunca mais ouvi. A voz de um "diabinho" que apetecia possuir!
A voz da consciência...? Também não era. Mas não me enganei. De facto, alguém falava comigo. Uma mulher de cor. Substancialmente volumosa. Voz rouca. Gotas de suor no rosto. Alguém que me pedia ajuda. Queria ir para a Charneca do Lumiar e não sabia como. Expliquei-lhe o melhor que pude. Cortava à direita. Depois à esquerda. Seguia em frente...
Ficou a olhar para mim e sorri para ela, resignado.
Lá seguimos. Conversando sobre a casa dos cânticos alegres. Da sua fé e do meu ceticismo. Fomos andando até que a paragem do autocarro ficou visível. Magia ou não, senti-me melhor do que nunca de regresso a casa. Foi muito positivo ter ajudado aquela desconhecida. Eu tinha substituído o seu deus por uns minutos em que me tornei no amor universal tão falada na igreja dos cânticos alegres, dos convertidos e dos curiosos, onde me incluía.
Um pouco ao de leve, enxuguei uma lágrima de negra perdida na grande cidade. Foi um bom começo.
Não eras tu que falavas do amor universal?
Suponho que ficaste lá dentro, escondida, e adiámos o encontro. Mas o mais importante é que aconteceu poesia e desta vez não foi contigo...

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