sábado, 2 de novembro de 2024

Inventei-te

 




Nas noites longas dos longos dias azuis abraço o vazio e julgo que és tu. O teu corpo escorrega pelas minhas mãos deixando sensações por descobrir. Os lábios, que sabiam a morangos silvestre, fecham-se desencantados.
O magnetismo das ligações invisíveis. O luar dos teus olhos refletido noutros olhos (quais os verdadeiros?), o riso descontrolado que prometeu vingança. Inventei tudo. O contacto de mãos agarradas que falaram de segredos e esconderam os segredos. As profecias que saíram da tua boca. Enfim, inventei-te para esconder a verdade e mostrar a mim próprio que não eras a minha verdade.
Trouxe outra do passado. Mais uma vez. Trouxe-a para destruir o sonho à nascença. Para me dilacerar a alma. Inventei-te mais uma vez porque a verdade aconteceu naquele estranho tempo que não tinha tempo.
Aqui estamos de novo. Eu e um fantasma que se esconde nas profundezas insondáveis do inconsciente e vai devorando neurónios bloqueados. A sua fome é insaciável. A ânsia de destruir tornou-se irreversível.
E o luar dos outros olhos?
«Dos meus olhos!» dizes.
Teus? A quem os roubaste? 
Já não volta a acontecer. Nunca a terei. Passou por mim como tu passaste. Roubaste um sonho. Primeiro amor... estranha sensação de posse! Que tens a dizer do primeiro amor? Acaso não existiu? Existiu, sim. Mas no outro tempo. E tu vens agora roubar este tempo!
Não quero ouvir mais o teu riso irónico. Deixa que ela venha ao meu encontro. Deixa acontecer. Tens uma eternidade para esperar por mim e ainda agora nasceu a madrugada...

Sem comentários:

Enviar um comentário