Tudo existe, no presente e no esquecimento...
O desejo que sempre tive de beijar os teus lábios. A saudade de um passado que ruiu. Tudo não passou de uma ilusão.
O nosso desejo...? Que é feito dele?
Há um abismo profundo a separar os caminhos de ontem e de hoje. Há mil promessas que imitam fachos de realidade. Só vejo uns olhos tristes e longínquos a fitarem-me em segredo, na contemplação hipnótica de um deus quase deus para ti e que afinal tinha pés de barro. Lamento, meu amor. Fui levado por impulsos que não consegui controlar.
Hoje, é doloroso viver no presente. Tão doloroso que chego a pensar que me esqueci de ti. Talvez por isso, para manteres ardente a chama, me envies miragens. Tão perfeitas e tão diferentes que sou arrastado na torrente do sonho que, mais tarde ou mais cedo, desagua em pesadelo.
Os teus lábios. Estão frios. Distantes. Tudo está perdido. Ainda ontem, quando nos encontrámos, eras a rapariga do vestido branco. Sempre te vi jovem. Quero acreditar que nunca foste a mulher que outro beijou. Há esquecimento semeado no presente que não tem calor para germinar. Ao mesmo tempo, o presente está esburacado pelo rebentamento de quimeras, rosas sem perfume que enfeitam mitos.
Desconheço quem nos afastou tão de repente. Eras a estrela que deixou de brilhar no caminho de um transviado. Jamais terei os teus lábios de sabor a morangos silvestres. Jamais te verei. Nem nas esfinges que me envias.
Mas um dia, vi-te. Vestida de branco. Olhos tristes e longínquos. Conheci-te logo ao primeiro olhar. Eras a mulher única destinada. A mulher que deixei fugir.
Os nossos projectos...?, lembras-te? Podia ter acontecido, mas o maquinista da vida levou-me por caminhos diferentes que me afastaram de ti. Se pudesse, quebrava as grilhetas que me prendem à solidão e subia ao teu mundo para conhecer o sabor a morangos silvestres dos teus lábios. Mas tudo não passa de um sonho. Hoje estão frios.
No céu brilhava uma estrela que era a luz da minha vida. Mas um dia parti. Depois, ouvi dizer que se apaixonaram por ti, estrela. Ouvi dizer que me esqueceste. Morreu o sonho. Só há presente e esquecimento. O presente de uma vida diferente, e o esquecimento da estrela que brilhava no céu.
Nunca mais te vi, nem nunca mais te verei. Mas há quem diga que te ouve chorar com pena de não teres sido minha!

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