Vai acontecer amanhã. Os corações famintos não podem morrer na longa travessia do deserto vermelho que lhes está destinado. Alguém decidiu. Cumpra-se. Atinja-se a ilha que não tem regresso. Procure-se na ilha a razão da nossa existência. Procure-se na ilha onde os dias são azuis. Como era azul a nudez da tua alma. Dizem que os dias azuis não têm ruídos torturantes nem imagens de angústia. Tudo neles é sereno e belo. Sereno o determinismo e belo o sonho de amanhã acontecer. Não vai haver gaivotas, nem mulheres de vermelho. O sorriso da Esfinge diluir-se-á, fatalmente, na clepsidra do “Novo Tempo da Rosa” (1). Na ilha, vamos perder o mar de vista, os olhos de Patrícia e os copos em rodopio dos dias sem palavras ou de palavras já gastas. Depois, seguir o destino. Onde te espero. Onde me esperas.
Não. Não és a morte, embora sejas serena. E não és a vida, embora os teus seios generosos palpitem de desejos eróticos. És muito mais. Somos muito mais que insignificantes partículas do Todo Poderoso que se confunde com o nosso querer. A vontade é forte e amanhã vai acontecer. Nada de miragens que nascem e morrem. De frustração. Desespero. Ódio. Vingança. Amanhã será diferente porque a vontade é forte..
Que verdade?, imagino que perguntas.
A ilha é o meu desencantamento. Está comigo. Para além da vida e da morte. A ilha talvez sejas tu. O teu vestido azul (2). O orgasmo impossível. O desejo absurdo de te possuir porque nunca te terei.
Vai acontecer amanhã. Adivinho o teu sorriso. Não é preciso mais que o teu sorriso. Exististe sempre. E agora que despertei, depois de cassetes suspensas, relógios falantes, mulheres de vermelho, chego à conclusão que o amanhã verdadeiro sempre existiu, embora noutra dimensão. Na ilha. No sonho de te ver azul e infinitamente perto. E dentro do sonho, teremos tudo. Porque o tudo é uma parcela do nada e este a força poderosa que sempre existiu em longos anos de permanência latente.
É bom voltar a ter-te. Os teus seios provocantes. Os teus lábios sumarentos que sabiam a morangos silvestres. A voz suave que sussurrava promessas eróticas do outro lado e tão perto. O vestido azul que escondia a nudez do teu corpo ondulante.
É já amanhã e foi ontem que te tive ou sonhei. Amanhã vai acontecer.
Mas acontecer o quê?, se os meus pobres olhos poderão deixar de avistar a ilha onde me esperas e onde existem outras ilhas que já encontraram o caminho?
(1) A Esfinge tinha uma heroína
(2) Recordando... Já em férias, sonhava com o início do trabalho no Programa. Foi uma atração repentina pela Marta (Guapa) que não passou, no entanto, de fumo de verão!
O leão e o caranguejo
Sem comentários:
Enviar um comentário