sábado, 8 de agosto de 2020

Quadras a esmo...

 

TERÇA-FEIRA, 11 DE MARÇO DE 2008

Quadras a esmo...



O poeta que finge a dor
nunca a verdade encontrou
se num dia perde um amor
um outro amor chegou.

Se acaso o poeta navega
para além do seu horizonte
nunca a mensagem entrega
ao amor que tem defronte.

Ser poeta é saber navegar
nos mares de mil correntes
nos teus lábios naufragar
em beijos longos e ardentes.

Rosa vermelha é paixão
a branca sinal de morte
se me deres a tua mão
tenho nela a minha sorte.

Espinho fino crava fundo
num momento a dor aperta
quem me dera ser deste mundo
e ter sempre a porta aberta.


Ser poeta é ser do azul
e ter força de resistir
à força do vento sul
que um dia há de vir.

No tempo que há de vir
sonhamos o tempo parado
mas no espaço que existir
só tem lugar o passado.


No passado em que eu te amei
no futuro que não se adivinha

num deles por ti já passei
no outro jamais serás minha.

Quem me dera adivinhar
nas linhas da sua mão
ter alguém a quem amar
sem sangrar meu coração.

Tenho tudo o que não quero
e já nada me resta de ti
se há muito por ti espero
há muito também te perdi.


Chega o tempo do entardecer
estou no fim da minha sorte
sou um poeta sempre a viver
nesta corrida para a morte.


Estou cansado de ter vivido
os sonhos que nunca sonhei
quem me dera ter esquecido
o dia em que te encontrei.

Jamais me vou esquecer
do poeta que nunca mente
ainda agora o estou a ver
fingindo a dor que sente.

Palavras  palavras perdidas
"meu amor minha ternura"
saudades de paixões vividas
são ecos de muita amargura.

Muito muito me enganei
perdi-me de amores a esmo
quando um dia te encontrei
enganei-me a mim mesmo.

O crepúsculo vai chegar
a morte espera quieta
e o poeta fica sem voz.
Esvai-se o tempo de ficar
nunca mais se é poeta
quando o rio chega à foz...

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