No meu laboratório secreto, de provetas invisíveis e sais inodoros, crio as noites de maré cheia com rostos de maré vazia. Pedaços de sonhos, esmagados no almofariz do subconsciente e diluídos na crueza do real, experimentam fumos multicolores que desaparecem na clepsidra do acontecer.
No meu laboratório secreto há explosões incontroladas que devoram cá dentro o desejo de eternidade. Agitam-se os tubos de ensaio e trocam-se misturas incompatíveis nos cadinhos que vão ao fogo purificar a verdade que não é a última verdade.
No meu laboratório secreto procuro a órbita do teu afastamento e a fenolftaleína não dá sinal que existes, noutro tempo e noutro espaço.
No meu laboratório secreto faço a purificação no vazio da noite. Os ácidos esmagam docemente as bases em espuma que violenta as areias da praia e que logo se desvanece.
Vejo nos teus olhos de Esfinge poções satânicas que vigiam as profundezas onde os neurónios governam e esperam pacientemente pelo momento certo para quebrar as últimas resistências.
No meu laboratório profanado os ácidos diluíram os sonhos de ontem e criaram monstros materialistas que vão devorar com avidez no amanhã.
Mas, no fundo do amanhã, o hidrogénio irá encher balões de esperança rumo à eternidade, até que um dia chegarei aos anos-luz dos sonhos diluídos onde nascem outras estrelas onde tu não estás!
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