Quantas vezes voltei aqui para inspirar profundamente o forte odor a maresia e lembrar o tempo em que dizia que os teus beijos sabiam a morangos silvestres?
Quantas vezes estive aqui, à beira-mar, para sonhar contigo?
Quantos dias cinzentos me trouxeram aqui, à beira-mar, porque sentia em força a tua presença e assim os dias pareciam ser azuis?
A neblina das memórias distorcidas esconde o teu rosto, mas lembro-me de ti. Corrias feliz pelos campos e vinhas ao meu encontro de braços abertos, cabelos soltos ao vento, olhos muito abertos de gazela espantada, à procura de um porto de abrigo, até que paravas a dois metros e olhavas para lá do horizonte onde eu não estava. Então pensava que a tua timidez não disfarçava sequer a ingratidão quando te pedi ajuda e disseste que não. Por outro lado, gostavas de ser amada, mas a magia da união de duas almas perdidas nunca se concretizou. Amavas os meus poemas mas nunca te identificavas com eles.
Porque foi, sorriso engraçado, que nunca me amaste?
Pensando melhor, para sonhar com um grande amor, será preciso recuar ainda mais no tempo nublado da mulher única e perguntar…
Mas não basta encontrar-te à beira-mar. Nem sermos bipolares de dias ora cinzentos ora azuis. Nem termos o mesmo sol interior que nos aquece (que sol é este...?). Nem o luar dos teus olhos que traga de volta o sonho. Nem o sonho de adormecermos à beira-mar.
Então o que falta?
Muito simples. Não basta um de nós amar e o outro apenas falar de amor. Temos que nos entregar ao amor para assim o conhecermos. E se for como digo, nada mesmo nada neste mundo nos pode destruir. Só a inevitabilidade de um dia voltarmos a ser nada, filhos pródigos regressados às estrelas, quem sabe, parte comum da espuma que se vai espraiar mais uma vez com doçura nas areias douradas da praia dos sonhos que desejamos serem reais.
E que mais falta ainda?
A magia de estar à beira-mar onde te vejo ao meu lado, cabelos soltos ao vento e molhados pela espuma salgada das ondas de ontem.
Quantas vezes estive aqui, à beira-mar, para sonhar contigo?
Quantos dias cinzentos me trouxeram aqui, à beira-mar, porque sentia em força a tua presença e assim os dias pareciam ser azuis?
A neblina das memórias distorcidas esconde o teu rosto, mas lembro-me de ti. Corrias feliz pelos campos e vinhas ao meu encontro de braços abertos, cabelos soltos ao vento, olhos muito abertos de gazela espantada, à procura de um porto de abrigo, até que paravas a dois metros e olhavas para lá do horizonte onde eu não estava. Então pensava que a tua timidez não disfarçava sequer a ingratidão quando te pedi ajuda e disseste que não. Por outro lado, gostavas de ser amada, mas a magia da união de duas almas perdidas nunca se concretizou. Amavas os meus poemas mas nunca te identificavas com eles.
Porque foi, sorriso engraçado, que nunca me amaste?
Pensando melhor, para sonhar com um grande amor, será preciso recuar ainda mais no tempo nublado da mulher única e perguntar…
Quantas vezes pensei em ti, à beira-mar, e vi os teus olhos tristes, perdidos na distância, algures, à procura do tempo que foi?
Foi o tempo do odor da rosa vermelha, uma rosa de espinhos acerados que um dia cravaram fundo e doeram. Um tempo curto porque, sem que entendesse, as pétalas vermelhas, cor da paixão obsessiva, foram levadas para longe pelo vento sul, rumo às terras do nunca. Partiste para sempre, mas ainda ontem alguém me disse que te ouviu chorar na dimensão proibida.
Porque acontece sempre assim, hoje voltei à beira-mar e fiquei à espera da onda que já aconteceu. Perdi-a. Perdi o beijo da espuma que se desfez em nada nas areias douradas da praia do nada que eras tu. Ou o muito de ti que nunca tive. Ou o pouco que me deste e que esbanjei. O nosso sonho adormeceu à beira-mar e nunca mais tive o luar dos teus olhos que beijava com sofreguidão como se estivesse escrito que era a última vez.
Depois, sonhos eróticos vieram ter comigo, aqui, à beira-mar, nuns olhos de amêndoa que quase me arrastaram na miragem do pó branco que te destruiu. Ignorei a tua súplica de “pobre sereia abandonada”, pois lamentar-te era o mesmo que manter-te na distante.
E porque era o meu destino vim mais vezes à beira-mar esperar por outras ondas. Adormecer numa longa noite serena e esperar, placidamente, por outra onda. A noite em que te verei, olhos doces e melados, trazida pela onda, para pisar as areias beijadas pela espuma que não se vai desvanecer. Sem tempestades interiores, nem furacões a passar.
E quando acordar...?, verei na areia só as marcas dos teus pés delicados que partiram para outra longa caminhada e mais nada?
É verdade que acreditei que te ia encontrar um dia na mesma estrela que tinha escritos os nossos nomes e voltei a adormecer à beira-mar até que um amanhã diferente me acordasse e eu te visse e tu me visses… aqui à beira-mar, onde desemboca um extenso estuário de águas calmas depois de uma longa corrida selvagem e alucinante, rio abaixo.Mas não basta encontrar-te à beira-mar. Nem sermos bipolares de dias ora cinzentos ora azuis. Nem termos o mesmo sol interior que nos aquece (que sol é este...?). Nem o luar dos teus olhos que traga de volta o sonho. Nem o sonho de adormecermos à beira-mar.
Então o que falta?
Muito simples. Não basta um de nós amar e o outro apenas falar de amor. Temos que nos entregar ao amor para assim o conhecermos. E se for como digo, nada mesmo nada neste mundo nos pode destruir. Só a inevitabilidade de um dia voltarmos a ser nada, filhos pródigos regressados às estrelas, quem sabe, parte comum da espuma que se vai espraiar mais uma vez com doçura nas areias douradas da praia dos sonhos que desejamos serem reais.
E que mais falta ainda?
A magia de estar à beira-mar onde te vejo ao meu lado, cabelos soltos ao vento e molhados pela espuma salgada das ondas de ontem.




