Os anos passaram. Os teus, infelizmente foram curtos. Sofridos. Marcados pela dor física. Quiçá também pela pela outra dor de não seres minha. Só tu sabes. E eu? Eu ainda ando por aqui. Até quando, só Deus sabe. Se é que Ele sabe. Nunca falou comigo!
Agora, sentado à lareira onde arde o sonho de ontem, vejo as labaredas vermelhas, último alento, agonia inevitável idêntica à de uma estrela em colapso. Labaredas que já não me aquecem. E porquê? Porque o tempo não perdoa, bem sei. O tempo cujas engrenagens encurtam o meu tempo. Apertam-me. Asfixiam-me. E assim, em breve deixarei de pensar em ti. Tentando adivinhar onde estás. As memórias de ti ainda estão guardadas na minha mente, mas agora cobertas por um nevoeiro cada vez mais cerrado. É suposto pensar, entretanto, que te vejo ainda, mas no tempo sem tempo. No tempo que levou as nuvens. A chuva que te levou para longe. As lágrimas que secaram. Os teus olhos tristes e a distância que eles alcançavam. É suposto pensar que nunca mais te terei, estrela. E sabes uma coisa? Estou só, embora, por vezes, sinta a tua presença. Talvez seja uma alucinação. Mas não importa. Sonhar com o que quer que seja é o que me resta. Desde que seja sonhar contigo é bom. Tentar interpretar os sinais que surgem. Imaginar que és tu quem os envia...
Chegou mais uma longa noite escura. Cada noite que passa é como um dia minguado que se segue a outro mais minguado. Felizmente que há um dia que dura menos que os outros e a que corresponde a mais longa das noites, âncora levantada para o recomeço da viagem rumo aos dias mais longos. Que bom seria que o rio da nossa vida, cíclico em máximos e mínimos, ficasse quase parado a meio caminho do máximo que um dia sonhámos atingir!
Por mais longa que seja a noite tem sempre um fim. Mas porque será que as nossas noites estão cada vez mais longas e escuras se os sinais do tempo apontam para uma lenta aproximação da primavera?
Por outro lado, o Sol está cada vez mais baixo no horizonte.
Ah!, se nós tivéssemos o poder da magia e pudéssemos transformar as nossas noites cada vez mais longas em longos dias azuis...
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