quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Patrícias?



Fugiste de mim e cumpriu-se a profecia que não aconteceu nos meus sonhos astrais. Aí a verdade foi sempre outra, porque o voo solitário, que tem os seus custos, levou-me sempre a ti no rosto de outras mulheres.
Ceguei do lado errado do espelho onde não estavas e, paradoxalmente, sempre estiveste. Foi um erro de cálculo que paguei caro.
Disseste as palavras que traduzi nos teus olhos e que sempre desejei ouvir. Mas o teu silêncio foi ensurdecedor e afinal não as ouvi. 
Meditei na força que podiam ter tido essas palavras se a expressão dos teus olhos não fosse censurada. Na verdade, vi-te a fugir, sempre a fugir, não porque tinhas cabelos longos, olhos melosos ou outro sinal. Sim porque as palavras que poupaste mostraram que não eras tu. Porque, se fosses tu, não te procurava na estrada dos caminheiros errantes. Se fosses tu, o céu era azul e a gaivota, avistada do bar dos longos dias azuis, não voava em círculo. Se fosses tu a concha vazia que vi, um dia, na praia guardava o paguro que a hidra devorou. Mas, mesmo sabendo que não eras tu, continuei a procurar-te nos sítios que eram os nossos sítios. 
Afinal estavas longe. Noutro mundo onde era proibido sonhar!
Quem teve a coragem de afundar-se nas areias movediças, procurando e descobrindo um rosto que não era o teu?, nas mesmas areias fatais que tragaram o desejo que transbordou duma taça quebrada, sem restar uma gota para beber e daí ser proibido ser dono de um fragmento de sonho.
Procuro-te ainda, numa derradeira esperança de ver-te nos bares dos copos em rodopio nas mesas vazias. Procuro-te no azul, embora saiba que já não és do azul. Procuro-te na utopia de acontecer o amanhã que é hoje, tão tarde ou tão cedo que não posso encontrar-te para lá do tempo escondida do “cego” que é o meu duplo.
Do lado de cá, julgo que és minha. Do lado de cá o outro sou eu, onde a paixão acontece e só tu és diferente!                             

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