sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Profecia ou aviso



Que será o amanhã com novas janelas a abrirem-se...?
Que será o amanhã definitivamente perdido algures num sonho absurdo de escolher entre azeite e vinagre, dois líquidos não mexíveis?
Mas vamos aos factos. Os teus olhos não mentiram, mas a verdade fechou-se ao poeta desencantado que tanto te encantou. Só viste o poeta. Que fizeste do homem ofuscado pelo poeta que também queria “ler” nos teus olhos?
O outro lia-te, verso a verso, poemas mentirosos que te levavam ao êxtase. Eu contava-te uma história. Talvez aquela que podia ter sido a nossa história.
O outro lia, vezes e vezes, o mesmo poema a mulheres diferentes. Eu só tinha uma história para contar à mesma mulher. A ti. 
Não me ouves. Não existo para ti. É o que leio nesses olhos cegos pela paixão. Nunca foste minha. E eu?
É tempo de partir antes da saudade apertar; é tempo de te perder antes de chegar o futuro. 
Mas antes de partir, preciso de ser esclarecido.  
Afinal quem era o sacana do poeta que um dia chamaste à ribalta dos teus sonhos eróticos, ou isso?
Sabes que foi um absurdo desviares o destino, esqueceres-te do homem porque só o poeta contava para ti? 
Não te aches mulher fatal apenas para o poeta. Desengana-te. O homem não vai desistir, porque o outro, que tanto te encantou, só está de passagem. Mais verso menos verso e pronto, segue o seu caminho. É sempre assim. Quanto ao homem, esse tem o tempo sem tempo consigo para esperar pelo momento ideal em que vai consumar a sua vingança. Vingança? Disse vingança? Só se teimares em ver em mim o poeta que não sou. Tens que separar as águas. Quantos erros são cometido quando se mistura azeite com vinagre! Não interessa saber quem é um e quem é o outro. Mas tens que escolher.
Repito. Antes dele partir, tens que escolher. Vá, escolhe. Senão... 
… quando um dia acordares sem o poeta dos seus sonhos e  chegar o tempo de sonhares com o homem que fez o poeta, já não será tempo de ser teu o homem que fatalmente ignoraste!


quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Patrícias?



Fugiste de mim e cumpriu-se a profecia que não aconteceu nos meus sonhos astrais. Aí a verdade foi sempre outra, porque o voo solitário, que tem os seus custos, levou-me sempre a ti no rosto de outras mulheres.
Ceguei do lado errado do espelho onde não estavas e, paradoxalmente, sempre estiveste. Foi um erro de cálculo que paguei caro.
Disseste as palavras que traduzi nos teus olhos e que sempre desejei ouvir. Mas o teu silêncio foi ensurdecedor e afinal não as ouvi. 
Meditei na força que podiam ter tido essas palavras se a expressão dos teus olhos não fosse censurada. Na verdade, vi-te a fugir, sempre a fugir, não porque tinhas cabelos longos, olhos melosos ou outro sinal. Sim porque as palavras que poupaste mostraram que não eras tu. Porque, se fosses tu, não te procurava na estrada dos caminheiros errantes. Se fosses tu, o céu era azul e a gaivota, avistada do bar dos longos dias azuis, não voava em círculo. Se fosses tu a concha vazia que vi, um dia, na praia guardava o paguro que a hidra devorou. Mas, mesmo sabendo que não eras tu, continuei a procurar-te nos sítios que eram os nossos sítios. 
Afinal estavas longe. Noutro mundo onde era proibido sonhar!
Quem teve a coragem de afundar-se nas areias movediças, procurando e descobrindo um rosto que não era o teu?, nas mesmas areias fatais que tragaram o desejo que transbordou duma taça quebrada, sem restar uma gota para beber e daí ser proibido ser dono de um fragmento de sonho.
Procuro-te ainda, numa derradeira esperança de ver-te nos bares dos copos em rodopio nas mesas vazias. Procuro-te no azul, embora saiba que já não és do azul. Procuro-te na utopia de acontecer o amanhã que é hoje, tão tarde ou tão cedo que não posso encontrar-te para lá do tempo escondida do “cego” que é o meu duplo.
Do lado de cá, julgo que és minha. Do lado de cá o outro sou eu, onde a paixão acontece e só tu és diferente!