O nosso amor nasceu
apressado, talvez porque o tempo que nos resta, tal rio torrencial, corre
também apressado e arrasta-nos, inevitavelmente, para uma viagem sem retorno.
Mas não nos conformamos e qualquer coisa nos diz que podemos mudar o curso do
rio e assim fazê-lo voltar para trás até chegar às origens, onde vou ver de
novo o teu sorriso gaiato e maroto de ontem, que sempre conheci. Não é verdade
que não tenhas existido sempre em mim, adormecida nos escaninhos do meu
subconsciente. O nosso amor é suave e intenso todos os dias. Cada vez que nos
encontramos cresce mais um pouco e deixa em nós o seu abraço terno, como ternos
são todos os momentos em que estamos juntos, ignorando as barreiras que alguns
construíram para apertá-lo, bloqueá-lo, destruí-lo. Mas ele ultrapassa todas
essas barreiras, sempre cada vez mais forte, criando poderes que o tornam imune
a todo o ataque de ciúmes daqueles que sentem o amor que temos um pelo outro e
não querem admitir a verdade porque estão a subir a montanha com quem só lhes
pode dar uma mão cheia de nada. E nós, de mãos dadas, também subimos a mesma
montanha, envolvendo-a com sorrisos ternos, lançando-lhe, gratos, os mil e um
beijos de amor que continuamos a trocar, mesmo a seguir ao orgasmo que não é o
fim da ternura.
Quando os nossos corpos se apertam freneticamente e os conceitos
bloqueadores deixam de prevalecer, instala-se uma espécie de ditadura a dois,
quase amoral, cada vez mais agregadora. É sempre assim quando fazemos amor. Um
desejo mútuo de ter prazer e de dar prazer, desejo sempre a crescer em cada
minuto que se escoa, e prolonga-se depois da exaustão, corpos abraçados, com
carinhos que continuam até ao nascer do dia que vai chegar.Este amor não se instalou ontem, quando me deste a mão e me levaste contigo atrás do sonho (a luz apagou-se e a cama encheu-se de nós). Este amor tem que ser de sempre. Só lamento não me lembrar do dia que antecedeu a separação, embora tenha o pressentimento que nesse tempo fomos tão felizes como somos agora e que o amor nunca deixou de estar em nós. Só adormeceu, como o vulcão que amanhã vai despertar com a força incontrolável de vir lançar o fogo da paixão, abraçando, à sua maneira, a Natureza.